quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Entrevistando Emilio Martins

A DANÇA BRASILEIRA CONQUISTA MOSCOU

Emílio Martins, ex-primeiro-bailarino do Theatro Municipal chega aonde poucos sequer podem sonhar: vai remontar La Fille Mal Gardée para o Ballet Bolshoi. É isso mesmo, o Bolshoi de Moscou. Emílio, querido companheiro de tantos anos, hoje Coordenador de Dança da Funarte, realiza através do seu trabalho honesto, absolutamente dedicado, quase místico, todos os nossos próprios ideais. A estréia se dará no dia 20 de janeiro e daqui estaremos torcendo, aguardando ansiosos seu retorno e prontos a lhe prestar as homenagens que a mídia idiota não prestou, a reconhecer um feito que os que possuem uma tradição em ballet podem bem dimensionar. Sucesso companheiro! E seja bem vindo no seu regresso!
Professor Emílio Martins Remonta Balé para o Bolshoi


Emílio, o que é coreologia?

Emílio Martins: São sinais escritos num pentagrama que permitem, a quem estuda esse sistema, montar uma dança, uma cena de mímica ou uma obra completa. É uma matéria muito inteligente dentro da dança; até hoje me surpreendo lendo os sinais e desvendando a coreografia através deles.

Você é, talvez, o único latino americano credenciado pelo Royal Ballet de Londres para remontar a obra-prima de sir Frederick Ashton ‘La fille mal gardée’. Como se sente diante dessa responsabilidade?

Emilio Martins: Sinto-me estimulado e, ao mesmo tempo consciente da responsabilidade que assumo. Sobretudo, porque além de atuar como coreólogo prossigo o trabalho como ensaiador, ou seja, escolho o elenco, ensaio, burilo o trabalho e apresento o resultado final, já nos últimos dias, ao tutor do ballet, CBE (Cavaleiro do Império Britânico) Alexander Grant.

Para que companhias já montou essa jóia da criação universal? E para que bailarinos?

Emilio Martins: Já trabalhei com o Ballet Estable do Teatro Colón de Buenos Aires, Balé do Theatro Municipal do Rio, The Royal New Zealand Ballet, Balletto Del Teatro Dell’Opera di Roma, Hong Kong Ballet, entre outras companhias. Em todas deixei as portas abertas para retornar. Tenho trabalhado com extraordinários bailarinos tais como: Margaret Ullmann, Ana Botafogo, So Hon-wan, Julio Bocca, Amy Hollingsworth (maravilhosa), Ou Li, Michael Wang (excelente), Yuri Klevtsov, Karina Olmedo, Alexandre Parente, Luíz Ortigoza (fantástico), Burníse Silvius, Priko Ochisi, Jon Trimer, Kim Broad, só para citar alguns, pois o prazer de conhecer e trabalhar com tantos bailarinos bons é muito grande e me impulsiona a fazer produções que vêm alcançando grande sucesso.

E um convite feito pelo Bolshoi muda alguma coisa? Sabemos que não é qualquer estrangeiro que pisa nas companhias russas de ballet como convidado.

Emilio Martins: Trata-se de um convite que remonta à gestão de Vladimir Vassiliev. Apesar de minha experiência internacional, considero esta uma oportunidade única. O Bolshoi tem uma mística; e, quanto mais não seja, sou o primeiro brasileiro a atuar na Rússia na condição em que estou atuando, não como bailarino de uma companhia estrangeira, como bolsista ou para participar de alguma competição. Vou montar um espetáculo para eles, minha excitação é enorme; além disso já tomei conhecimento de que terei à minha disposição seus melhores bailarinos. Também vou estar com meu antigo mestre Alexander Prokofiev, com quem trabalhei no Ballet Nacional de Santiago no Chile e rever Raisa Strutchkova e Marina Kondratyeva, ex-primeiras-bailarinas do Bolshoi que tive a chance de assistir no Municipal do Rio na década de cinquënta. Confesso que, por tudo isto, estou considerando este momento da minha carreira como o máximo, sem desmerecer todas as companhias maravilhosas com as quais já trabalhei. Considero isto um prêmio pela minha dedicação à Dança no Brasil.

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